sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

As Dinastias Eg?pcias - Parte I

Per?odo Pr? Din?stico

Evid?ncias arqueol?gicas indicam que o Egito foi habitado por ca?adores h? mais de 250.000 anos atr?s quando era um grande pasto verdejante. O per?odo paleol?tico, por volta de 25.000 anos antes de Cristo, trouxe mudan?as clim?ticas extremas que transformaram o Egito numa terra muito ?rida.

Seus habitantes sobreviveram atrav?s da ca?a e da pesca al?m de uma primitiva forma de cultivo do solo. A desertifica??o do Egito acabou n?o se concretizando por completo em fun??o de chuvas que permitiram as comunidades de agricultores fazer assentamentos em sua regi?o central, permeando o delta do Nilo. Estes fazendeiros desenvolveram o cultivo do algod?o, trigo e seus sub-produtos assim como a administra??o do gado.

O primeiro grupo nativo do Egito foi identificado no sul do pa?s, atrav?s de escava??es arqueol?gicas por volta de 1920. Descobriu-se cemit?rios e povoamentos que datam de 4000 a.C. Essa primeira civiliza??o pr?-din?stica se caracterizava por atividades ligadas ao cultivo da terra, ca?a e minera??o. Produziam porcelana fina e objetos entalhados e adquiriam turquesa e madeira atrav?s de trocas comerciais.

Os Nakada, a seguir, viveram por volta de 4000 a.C. e produziam porcelana decorada, assim como pequenas estatuetas de barro e marfim que indicam sua predile??o para a guerra ou, pelo menos, sua atra??o por ela. Os artefatos datados de 3300 a.C. mostram um desenvolvimento mais apurado, tanto em termos de cultura quanto de tecnologia. Evid?ncias de sistemas de irriga??o bem como a utiliza??o de materiais estranhos ?quela regi?o, tais como, l?pis lazuli, indicam uma diversidade cultural e o desenvolvimento acelerado do com?rcio com o exterior.

Durante a maior parte do per?odo hist?rico conhecido por pr?-din?stico, o Egito viu a multiplica??o destes assentamentos que gradualmente se tornaram pequenos reinos tribais. Esses reinos evolu?ram para dois estados livres confederados: um circundava o Vale do Nilo indo at? o delta e dominado pelos Nakada, com ?Hierakonpolis? sendo a capital e tendo como deidades principais Seth e Coroa Branca; o outro circundava o delta, sendo Buto a capital e tendo como deidades H?rus e a Coroa Vermelha.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Guardiãs do Egito Antigo

O LIVRO DOS MORTOS

Cena do Livro dos Mortos.

O Livro dos Mortos

Durante o Império Novo (c. de 1550 a 1070 a.C.) a maior parte das fórmulas dos textos dos sarcófagos, acrescidas de diversas estrofes novas, passaram a ser escritas em rolos de papiro, os quais eram colocados nos ataúdes ou em algum local da câmara sepulcral, geralmente em um nicho cavado com essa finalidade. Quando postos no sarcófago costumavam ser encaixados entre as pernas dos corpos, logo acima dos tornozelos ou perto da parte superior das coxas, antes de serem passadas as bandagens. Tais textos, que formam um conjunto com cerca de 200 estrofes referentes ao mundo do além-túmulo, ilustrados com desenhos para ajudar o defunto na sua viagem para a eternidade, foram intitulados pelos modernos arqueólogos de Livro dos Mortos. Entretanto, conforme explica o especialista em história antiga, A. Abu Bakr, esse título é até certo ponto enganoso: na verdade, nunca existiu um &quotlivro" desse gênero; a escolha das estrofes escritas em cada papiro variava segundo o tamanho do rolo, a preferência do adquirente e a opinião do sacerdote-escriba que as transcrevia. Um &quotLivro dos Mortos" médio continha entre 40 e 50 estrofes.

Para os egípcios esse conjunto de textos era considerado como obra do deus Thoth. As fórmulas contidas nesses escritos podiam garantir ao morto uma viagem tranquila para o paraíso e, como estavam grafadas sobre um material de baixo custo, permitiam que qualquer pessoa tivesse acesso a uma terra bem-aventurada, o que antes só estava ao alcance do rei e da nobreza. Em verdade, essa compilação de textos era intitulada pelos egípcios de Capítulos do Sair à Luz ou Fórmulas para Voltar à Luz (Reu nu pert em hru), o que por si só já indica o espírito que presidia a reunião dos escritos, ainda que desordenados. Era objetivo desse compêndio, nos ensina o historiador Maurice Crouzet, fornecer ao defunto todas as indicações necessárias para triunfar das inúmeras armadilhas materiais ou espirituais que o esperavam na rota do &quotocidente&quot.

As cenas do julgamento do falecido fazem parte daquela rota e, portanto, de tais papiros. A decisão era tomada no Saguão das Duas Verdades, um grande salão no qual ficava uma grande balança destinada a pesar o coração do morto. A solenidade é assim resumida pelo egiptólogo Kurt Lange: Osíris, senhor da eternidade, está sentado como um rei no seu trono. Tem em suas mãos o cetro e o leque. Por trás dele, mantêm-se habitualmente suas irmãs Ísis e Néftis. Na outra extremidade, vê-se a deusa da justiça, Maat, introduzir o morto ou a morta. No meio do quadro está desenhada a grande balança em que o peso do coração é comparado ao duma pluma de avestruz, símbolo da verdade. A pesagem é confiada a Hórus e ao guardião das múmias, de cabeça de chacal, Anúbis. O deus Thoth, de cabeça de íbis, senhor da sabedoria e da escrita, anota o resultado da pesagem sobre um papiro, por meio de um cálamo. Quarenta e dois juízes — correspondendo às Foto © Canadian Museum of Civilization Corporation quarenta e duas províncias do Egito — assistem à operação. Diante desse tribunal é que o candidato à eternidade deve fazer as declarações nas quais afirma nunca se ter tornado culpado de certo número de faltas para com seus semelhantes, para com os deuses, para com sua própria pessoa e o bem alheio. Se a sentença dos juízes fosse favorável ao morto, Hórus tomava-o pela mão e o conduzia ao trono de Osíris, que lhe indicava seu lugar no reino do além. Essa é a cena que vemos na ilustração do alto da página. Ela pertence ao Livro dos Mortos de Hunefer, obra originária de Tebas e datada da XIX dinastia (c. 1307 a 1196 a.C.). Caso contrário, o morto estaria cheio de pecados e, então, seria comido por um terrível monstro, Ammut, o devorador dos mortos.

A idéia central do Livro dos Mortos é o respeito à verdade e à justiça, mostrando o elevado ideal da sociedade egípcia. Era crença geral que diante de Osíris de nada valeriam as riquezas, nem a posição social do falecido, mas que apenas seus atos seriam levados em conta. Foi justamente no Egito que esse enfoque de que a sorte dos mortos dependia do valor de sua conduta moral enquanto vivo ocorreu pela primeira vez na história da humanidade. Mil anos mais tarde, — diz Kurt Lange — essa idéia altamente moral não se espalhara ainda por nenhum dos povos civilizados que conhecemos. Em Babilônia, como entre os hebreus, os bons e os maus eram vítimas no além, e sem discernimento, das mesmas vicissitudes.

Não resta dúvida de que o julgamento de seus atos após a morte devia preocupar, e muito, a maioria dos egípcios, religiosos que eram. Mas — pondera Crouzet — a provação era de tal espécie, que podia ser sobrepujada por uma memória eficaz, ajudada pelo papiro colocado junto ao cadáver, que possibilitaria ao defunto enunciar certas sentenças soberanas. Como afastar a palavra &quotmagia", e negar que o emprego destas fórmulas era considerado suficiente para apagar os erros da vida terrena? É claro que o crente era convidado a não cometê-los: seria a melhor maneira de garantir a sua salvação futura. Mas nenhuma reserva, em parte alguma, limitava a eficácia das receitas de que tratava de munir-se, desde que fosse obstinado, embora culpado.

É preciso que se diga que embora o Livro dos Mortos tenha aparecido grafado em papiros apenas a partir do Império Novo, sua origem é muito mais antiga, anterior até mesmo ao período dinástico. Inicialmente, contando apenas com poucas estrofes relativamente simples, adequadas aos costumes de uma época remota, seu conteúdo era transmitido de forma oral. Com o aumento da quantidade e da complexidade dos textos, os sacerdotes se viram obrigados a escrev&ecirc-los antes que se perdessem da memória dos fiéis. Num processo de cópias sucessivas foram introduzidas variações e enganos, tanto por equívoco na leitura dos caracteres quanto por desleixo, cansaço do copista e acréscimos feitos pelo próprio escriba interessado em impor sua opinião. A cópia mais antiga encontrada foi escrita para Nu, filho do intendente da casa do intendente do selo, Amen-hetep, e da dona de casa, Senseneb. Esse valioso documento, avaliam os arqueólogos, não pode ser posterior ao início da XVIII dinastia (c. de 1550 a.C.). Ele faz referência a datas dos textos que transcreve e uma delas se refere aos idos de um dos faraós da I dinastia (c. de 2920 a 2770 a.C.).

Foi nos sepulcros de Tebas que os pesquisadores encontraram a maior parte das cópias do Livro dos Mortos. Em tais papiros os comprimentos variam entre 4,57 e 27,43 metros e a largura entre 30,48 e 45,72 centímetros. No início do Império Novo os textos são sempre escritos com tinta preta e os hieróglifos dispostos em colunas verticais, separadas entre si por linhas pretas. Títulos, palavras iniciais dos capítulos, rubricas e chamadas são grafadas com tinta vermelha. Os escribas também enfeitavam os papiros com vinhetas de traços pretos, às vezes copiadas de ataúdes e documentos de dinastias bem anteriores como a XI (c. de 2134 a 1991 a.C), por exemplo. A partir da XIX dinastia (c. de 1307 a 1196 a.C.) as vinhetas passaram a ser pintadas com cores muito brilhantes e cresceram de importância, ao passo que o texto passou a ocupar uma posição secundária. Um dos mais belos papiros ilustrados que existem é o assim chamado Papiro de Ani, cujas vinhetas representam cenas mitológicas, nomes de deuses e cenas do julgamento dos mortos.

No decorrer da XXI e da XXII dinastias (c. de 1070 a 712 a.C.) houve deterioração do trabalho de escribas e desenhistas e a qualidade do mesmo diminuiu sensivelmente, além de ter havido alterações no conteúdo dos textos. Outros temas não relacionados com o mundo dos mortos, como a criação do mundo, por exemplo, foram incluídos nos papiros dessa época. Às vezes o texto nada tem a ver com a vinheta que o acompanha. Nesse período também se estabeleceu o costume de encher com os papiros figuras ocas de madeira do deus Osíris, as quais eram colocadas nos túmulos. Quando os papiros diminuíram de tamanho, passaram a ser armazenados em cavidades menores nas bases de tais figuras. Do final da XXII dinastia em diante, até o início da XXVI dinastia (664 a.C.) ocorreu um período de desordem e tumulto. Os sacerdotes perderam gradualmente o seu poder religoso e temporal e a crise provocou redução das despesas com cerimônias funerárias, tendo caído em desuso o costume de se fazer cópias do Livro dos Mortos.

Quando os faraós da XXVI dinastia assumiram o poder houve uma renovação dos antigos costumes mortuários, templos foram restaurados e textos antigos esquecidos foram relembrados e novamente copiados. No que se refere ao Livro dos Mortos tais cópias passaram a ser feitas de forma sistemática. Os capítulos passaram a ter uma ordem fixa, mantidos na mesma ordem relativa nos diversos papiros, ainda que alguns contivessem mais texto do que os outros, e quatro capítulos novos foram acrescentados, refletindo as novas idéias religiosas da época. Esses escritos continuaram a ser usados durante o período ptolomaico (304 a 30 a.C.). Nessa época, porém, só eram grafados os textos que se acreditava absolutamente necessários à salvação do morto. Textos que refletiam uma mitologia há muito esquecida eram ignorados.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O Udjat

OS EGÍPCIOS utilizavam vários amuletos protetores, tanto em vida quanto em suas múmias. Entre os mais antigos encontra-se o Olho Udjat que já aparece no Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C.) e é um dos mais comuns em todos os períodos da história egípcia. Ele simbolizava o olho direito do falcão, isto é, de Horus, o qual foi perdido durante a luta desse deus com seu tio Seth, que o fracionou em 64 partes. Entretanto, diz a lenda, o olho foi restaurado por Thoth. Além do olho propriamente dito, desenhado com traços bem marcados, o amuleto apresenta uma protuberância que reproduz a lágrima que normalmente brilha na face daquela ave de rapina. Podia ser feito de ouro, prata, granito, hematita, cornalina, lápis-lazúli, porcelana, madeira, etc. O que vemos acima, pertencente ao acervo do Museu do Louvre, é de faiança egípcia e mede 10,3 cm de altura por 13 cm de largura. Sua proveniência é desconhecida, mas foi datado como sendo do Período Tardio (c. de 712 a 332 a.C.).

O LIVRO DOS MORTOS, em seu capítulo CXL, determina que tais amuletos sejam feitos de lápis-lazúli ou de ametista. A rubrica desse capítulo diz o seguinte:

"Palavras a serem recitadas diante de um Udjat de lápís-lazúli verdadeiro ou de ametista banhada de ouro, diante do qual serão feitas oferendas de todos os tipos de coisas boas e puras quando se mostrar no último dia do segundo mês da estação pert. E farás outro Udjat de jaspe, que colocarás sobre a parte que quiseres do corpo do homem morto, e quando este capítulo tiver sido recitado diante do barco de Rá, o falecido será transportado de par com esses deuses, e tornar-se-á um deles, e levantar-se-á no mundo inferior. E enquanto este capítulo estiver sendo recitado, e enquanto as oferendas estiverem sendo feitas no tempo em que o Udjat está cheio, quatro altares serão alumiados para Rá-Tem, quatro para o Uedjat, e quatro para os deuses citados. E sobre cada um deles haverá bolos de pão feitos de farinha fina, cinco bolos brancos, shai, cinco baaq, uma medida de incenso e um quarto assado de carne."

A estação pert da qual fala o texto se refere ao período da semeadura e a citação ao "tempo em que o Udjat está cheio" é uma referência ao solstício de verão, como veremos adiante, ao passo que os 12 altares correspondem aos meses do ano.

HÁ DOIS TIPOS DE udjats: um que olha para a esquerda e outro que olha para a direita. Juntos representavam os dois olhos de Horus, sendo que um deles era branco e o outro preto, segundo consta de um texto bem antigo. Também se interpretava o primeiro como sendo o Sol e o outro a Lua, ou como sendo Rá e Osiris, respectivamente. De maneira geral, para os egípcios, o amuleto que representava o Olho Udjat possuía um poder mágico especial e, por isso, aparecia no espólio funerário.

Reproduzido em todos os tamanhos — nos diz Elisabeth Delange — ele veio a ser um simples amuleto disposto sobre a múmia, uma jóia pendente no peito, ou ainda um anel funerário, multiplicado por todos os dedos das mãos, e até nas várias falanges ao mesmo tempo, como foi o caso da múmia do jovem rei Tutankhamon (c. 1333 a 1323 a.C.). O anel cuja foto vemos acima encontra-se atualmente no Museu do Louvre sendo sua proveniência desconhecida. Mede 1,42 cm de altura e 1,90 cm de largura e está datado do Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.)

A LENDA DO OLHO SIMBOLIZA O CICLO DA LUA: Horus, tendo perdido seu olho na Lua nova, é depois reconstituído são e inteiro na Lua cheia. Assim, o Olho Udjat se torna o sinal da plenitude recuperada, da força, do vigor, da proteção, da segurança, da integridade física e da boa saúde. Nessas e em coisas semelhantes os egípcios pensavam ao usar esse amuleto, encarado provavelmente como o olho branco de Horus, isto é, o Sol, como nós hoje pensamos em sorte ao usarmos um pé de coelho no chaveiro. Nos textos religiosos — ensina o egiptólogo Wallis Budge —usa-se com frequencia a expressão "meh Udjat", isto é, o "enchimento do Udjat", e depreendemos claramente de inúmeras considerações que ela se refere ao Sol no solstício de verão; dessa maneira, o amuleto parece destinado a trazer ao seu portador força e saúde semelhantes às do Sol na estação do ano em que ele é mais poderoso. No capítulo CLXVII do Livro dos Mortos, extraído do papiro do escriba Nebseni, vemos essa associação entre a recuperação do olho pela divindade e a saúde do usário do amuleto. Ali o falecido recita:

O deus Thoth trouxe o Udjat e o fez estar em paz depois que ele partiu, ó Rá. A tempestade afligiu-o terrivelmente, mas Thoth o fez descansar depois que ele se safou da tempestade. Sou são e ele é são; sou são e ele é são; e Nebseni, o senhor da piedade, é são.

CADA UM DOS ELEMENTOS DO OLHO UDJAT, ou seja, a sobrancelha, a pupila, etc., serviam para formar uma fração do sistema numérico dos egípcios. Todos os pedaços reunidos formavam o Udjat intacto, o número inteiro, a unidade recuperada e, por efeitos mágicos, o amuleto proporcionava a integridade física e a valentia do corpo. Quando Seth arrancou o olho de Horus jogou-o para a orla do mundo. Nesse instante o céu noturno mergulhou em trevas. Isso simbolizava a fase da Lua nova, ou seja, a invisibilidade da Lua. O deus Thoth, protetor de Horus, saiu à procura do olho e encontrou-o nas trevas exteriores, em pedaços. Essa é a fase do quarto crescente lunar. Trouxe-o de volta, juntou as partes novamente e formou a Lua cheia, sinal de que tudo estava bem novamente. De acordo com os textos funerários, Thoth exclamou:

"Vim à procura do Olho de Horus,
de modo que eu possa trazê-lo de volta e contá-lo.
Descobri-o
[e agora está] completo, contado e bem,
de modo que possa chamejar e subir ao Céu
e golpear acima e abaixo..."

De fato o símbolo do Udjat pode ser decomposto em pedaços como se vê na figura acima. Cada parte do olho representa uma fração que somadas resultam em 63/64, ou seja, aproximadamente um. Os egípcios acreditaram que o último pedaço (1/64) era mágico e não podia ser visto. Ao juntar as partes dispersas do olho, Thoth restabeleceu a ordem no mundo e proclamou:

"Sou o que devolve o Olho Udjat.
Sou o que aboliu sua opacidade, quando seu brilho foi prejudicado...
Sou o que devolve o Olho Udjat
quando é salvo de seu infortúnio...
[de modo que agora tudo está bem] na casa da Lua."

COMO EXPLICA RUNDLE CLARK, professor de História Antiga da Universidade de Birmingham, parece claro que o tempo da ausência do olho é a estação do medo e da inércia da vida. Um hino do Império Novo fala da Lua cheia como o tempo das danças. Através de tudo isso percebe-se o temor do homem antigo pelo escuro e o alívio quando a Lua de novo brilha no céu noturno, ou o ritmo do calendário, da estação morta seguida pelo começo de um novo ano, introduzido com carnaval e feriados. E sobre tudo isto, preside o olho.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A Civilização Egípcia

Uma das civilizações mais importantes da história Antiga. Desenvolveu-se na região do Crescente Fértil, mais exatamente no nordeste da África, uma região caracterizada pela existência de desertos e pela vasta planície do rio Nilo. A parte fértil do Egito é praticamente um oásis muito alongado, proveniente das aluviões depositadas pelo rio. Nas montanhas centrais africanas, onde o Nilo nasce, caem abundantes chuvas nos meses de junho a setembro provocando inundações freqüentes nas áreas mais baixas ( O “Baixo Nilo”). Com a baixa do Nilo o solo libera o humo, fertilizante natural que possibilita o incremento da agricultura. Para controlar as enchentes e aproveitar as áreas fertilizadas, os egípcios tiveram de realizar grandes obras de drenagem e de irrigação, com a construção de açudes e de canais , o que permitiu a obtenção de várias colheitas anuais.

Dada esta característica natural, o historiador grego Heródoto de halicarnasso dizia que “O Egito é uma dádiva do Nilo”. Leitura preconceituosa, que tende a desprezar o empenho, o denodo e a competência técnica da civilização egípcia que aprendeu a utilizar as cheias e vazantes do rio a seu favor.

O Egito, inicialmente, estava dividido num grande número de pequenas comunidades independentes: os nomos que por sua vez eram liderados pelos nomarcas. Essas comunidades uniram-se e formaram dois reinos: o Alto e o Baixo Egito. Por volta de 3200 a.C., o rei do Alto Egito, Menés, unificou os dois reinos. Com ele nasceu o Estado egípcio unificado, que se fortaleceu durante seu governo com a construção de grandes obras hidráulicas, em atendimento aos interesses agrícolas da população. Menés tornou-se o primeiro faraó e criou a primeira dinastia.

O Crescente Fértil.

Os egípcios adoravam o faraó como a um Deus, a quem pertenciam todas as terras do país e para quem todos deveriam pagar tributos e prestar serviços, característica típica do Modo de Produção Asiático. O governo do faraó era uma monarquia teocrática, ou seja, uma monarquia considerada de origem divina. Como chefe político de um Estado poderoso, o faraó tinha imenso poder sobre tudo e sobre todos. Na prática era obrigado a obedecer às leis, muitas das quais haviam sido criadas séculos antes da unificação dos nomos, o que limitava em parte os seus poderes.

ANTIGO IMPÉRIO (3200 a.C. a 2300 a. C.)

Um Estado pacifista e dedicado à construção de Obras de drenagem e irrigação, que impulsionaram o desenvolvimento da agricultura. Foram construídas as célebres pirâmides de Gizé: Quéops, Quéfren e Miquerinos. A autoridade do faraó é enfraquecida pela ação dos nomarcas, apoiada pela nobreza.

MÉDIO IMPÉRIO (2100 a.C. a 1750 a. C. )

Os faraós reconquistaram o poder. Príncipes do Alto Egito restauraram a unidade política do Império e estabeleceram em Tebas a nova Capital. A massa camponesa, através de revoltas sociais, conseguiu o atendimento de algumas reivindicações, como por exemplo a concessão de terras, a diminuição dos impostos e o direito de ocupar cargos administrativos até então reservados às camadas privilegiadas. O Médio Império chega ao fim com a invasão dos hicsos, um povo de origem asiática. Os hebreus retirando-se da Palestina, chegaram ao Egito; mas foram os hicsos que criaram maiores dificuldades. Com cavalos e carros de combate que os egípcios desconheciam, dominaram o país e instalaram-se no delta do Nilo permanecendo na região aproximadamente dois séculos.

NOVO IMPÉRIO (1580 a.C. a 525 a. C. )

O período iniciou-se com a expulsão dos hicsos e foi marcado por numerosas conquistas. Outra característica fundamental deste período foi o expansionismo e o poderio militar, pois a luta contra o invasor desenvolvera no egípcio um espírito militar conquistador. No governo de Tutmés III, o domínio egípcio chegou a se estender até o rio Eufrates, na Mesopotâmia. No século XIV a. C., Amenófis IV, casado com a rainha Nefertite, empreendeu uma revolução religiosa e política, substituindo os deuses tradicionais por Aton, simbolizado pelo disco solar. Esta medida visava diminuir o poder dos sacerdotes que acabaram por fim expulsos. Amenófis IV passou a se chamar Aquenaton que significa supremo sacerdote do novo deus. Seu sucessor Tutancâmon, restaurou o culto aos deuses tradicionais e pôs fim à revolução.

O governo do faraó Ramsés II (1320 - 1232 a. C.) enfrentou novo obstáculo, como a invasão dos hititas. Inimigos ameaçavam as fronteiras; a resistência era enfraquecida pela rivalidade entre o faraó e grandes senhores enriquecidos pela guerra. Por volta do século VII a. C. os assírios invadiram o país. Em 525 a. C., o rei persa Cambises derrotou o faraó Psamético III, colocando fim à independência egípcia. Os povos do Nilo seriam ainda dominados pelos gregos e, a partir de 30 a. C., pelos romanos.

Quem é quem no Egito

Faraó - soberano todo poderoso, considerado deus vivo, filho de deuses e intermediário entre estes e os homens. Era objeto de culto e sua pessoa era sagrada. O faraó tinha autoridade absoluta: concentrava em si os poderes político e espiritual. Ele ocupava o topo da hierarquia social, filho de Amon-Rá, o deus-sol, e encarnação de Hórus, o deus-falcão. Por isso, esse governo é chamado de teocrático.

Nobres - proprietários de grandes domínios, ocupavam também os principais postos do exército. Esta camada era formada por familiares do faraó, altos funcionários do palácio, oficiais superiores do exército e chefes administrativos.

Sacerdotes - muito cultos, enriqueciam com oferendas feitas pelo povo aos deuses. Eram dispensados do pagamento de impostos e eram proprietários de muitas terras. A função sacerdotal era lucrativa e honrosa, passando de pai para filho. Os sacerdotes tinham a cabeça raspada e uma de suas funções era transmitir as respostas das divindades às perguntas dos fieis.

Escribas - se encarregavam da cobrança dos impostos, da organização escrita das leis e de decretos e da fiscalização da atividade econômica em geral.

Soldados - viviam dos produtos dados em pagamento pelos serviços e dos saques realizados durante as guerras. Nunca atingiam os postos de comando, pois eram reservados à nobreza.

Artesãos - trabalhadores que exerciam diferentes ofícios e que eram geralmente contratados por empreiteiros de grandes obras. Trabalhavam como pedreiros, carpinteiros, desenhistas, escultores, pintores, tecelões, ourives etc. Eles exerciam suas atividades nas grandes obras públicas recebendo em troca apenas alimento.

Camponeses - compunham a maior parte da população, viviam submetidos a uma violenta repressão por parte da camada dominante, que a ameaçava constantemente com exércitos profissionais para forçá-la a pagar impostos. Trabalhavam nas propriedade do faraó e dos sacerdotes e tinham o direito de conservar para si uma parte dos bens por eles produzidos.

Escravos - originários da escravidão por dívidas e da dominação de outros povos através das conquistas militares. Faziam os serviços domésticos ou trabalhavam nas pedreiras e nas minas.

Na sociedade egípcia desenvolveu-se o chamado modo de produção asiático, em que todas as terras pertenciam ao Estado e os camponeses das aldeias tinham o direito de cultivar o solo desde que pagassem um imposto coletivo. Esse imposto era pago com cereais, que eram estocados nos armazéns reais. Nessa sociedade, a base da economia era a agricultura. Cultivavam-se principalmente trigo, cevada, frutas, legumes, linho e algodão. Dentre outras atividades destacamos o comércio a indústria artesanal de tecidos e de vidro, a construção de navios, a cerâmica e a criação de bois, carneiros, cabras, asnos etc. O Estado intervinha na economia controlando a produção, recrutando mão-de-obra e cobrando impostos.

Religiosidade

Quanto a religiosidade, os egípcios eram politeístas, isto é, adoravam vários deuses, inclusive alguns animais, como o gato, o boi e o crocodilo, que eles consideravam sagrados. Além de ser politeísta, era também antropozoomórfica, pois os deuses eram representados geralmente pela figura humana e animal. A religião dos antigos egípcios passou por várias etapas: de um simples politeísmo para a mais recuada expressão conhecida de monoteísmo, retornando depois ao politeísmo. Durante o período do Antigo Reino, o culto do sol, corporificado na adoração de Rá foi o sistema dominante de crença. Servia como religião oficial cuja função principal era dar imortalidade ao Estado e ao povo, coletivamente. Para os egípcios, a morte apenas separava o corpo da alma. A vida poderia durar eternamente, desde que a alma encontrasse no túmulo o corpo destinado a servir-lhe de moradia. Era preciso então, conservar o corpo, e para isso os egípcios se aperfeiçoaram na técnica da mumificação.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Ankh

Conhecida também como cruz ansata, era na escrita hieroglíficaegípcia o símbolo da vida. Conhecido também como símbolo da vida eterna. Os egípcios a usavam para indicar a vida após a morte. Hoje, é usada como símbolo pelos neopagãos.

A forma do ankh assemelha-se a uma cruz, com a haste superior vertical substituída por uma alça ovalada. Em algumas representações primitivas, possui as suas extremidades superiores e inferiores bipartidas.

HISTÓRIA

Há muitas especulações para o surgimento e para o significado do ankh, mas ao que tudo indica, surgiu na Quinta Dinastia. Quanto ao seu significado, há várias teorias. Muitas pessoas vêem o ankh como símbolo da ressureição.
A alça oval que compõe o ankh sugere um cordão entrelaçado com as duas pontas opostas que significam os princípios feminino e masculino, fundamentais para a criação da vida. Em outras interpretações, representa a união entre as divindades Osíris e Ísis, que proporcionava a cheia periódica do Nilo, fundamental para a sobrevivência da civilização. Neste caso, o ciclo previsível e inalterável das águas era atribuído ao conceito de reencarnação, uma das principais características da crença egípcia. A linha vertical que desce exatamente do centro do laço é o ponto de intersecção dos pólos, e representa o fruto da união entre os opostos.
Andrew H. Gordon e Calvin W. Schwabe especulam no livro The Quick and the Dead de 2004 que os simbolos: Ankh, Djed e Was tem uma base biológica derivados da cultura de criação de gado do antigo egipto ( ligado á crença egipcia de que o sémen era criado na coluna vertebral), assim:
O Ankh, símbolo da vida, vértebra torácica de um touro (visto em corte transversal);
O Djed, símbolo da estabilidade, a coluna vertebral de um touro;
O Was, símbolo do poder e dominação, o penis seco de um touro simbolo da deusa Wosret ou Wasret.
Apesar de sua origem egípcia, ao longo da história o ankh foi adotado por diversas culturas. Manteve sua popularidade, mesmo após a cristianização do povo egípcio a partir do século III. Os egípcios convertidos ficaram conhecidos como Cristãos Cópticos, e o ankh (por sua semelhança com a cruz utilizada pelos cristãos) manteve-se como um de seus principais símbolos, chamado de Cruz Cóptica.
No final do século XIX, o ankh foi agregado pelos movimentos ocultistas que se propagavam, além de alguns grupos esotéricos e as tribos hippies do final da década de 60. É utilizado por bruxos contemporâneos em rituais que envolvem saúde, fertilidade e divinação; ou como um amuleto protetor de quem o carrega. O ankh também foi incluído na simbologia da Ordem Rosa-Cruz, representando a união entre o reino do céu e a terra. Em outras situações, está associado aos vampiros, em mais uma atribuição à longevidade e imortalidade. Ainda encontra-se como uma alusão ao nascente-poente do Sol, simbolizando novamente o ciclo vital da natureza.